A incompreensibilidade do amor é uma das suas mais belas características. Aparece, desaparece, supera barreiras, inventa linguagens e... precipita decisões! Foi o que aconteceu à princesa Mako do Japão.
Fazendo parte de uma das famílias reais mais tradicionais do mundo, a jovem terá de renunciar aos seus privilégios reais por amor. O seu noivo, o advogado e plebeu Kei Komuro, não encaixa nos planos de uma dinastia que proíbe as mulheres (e só as mulheres!) de casarem com alguém que não seja de origem real.
Foto: Asia News NetworkO preço do amor
A princesa Mako do Japão pertence à Casa Imperial, cuja forte tradição tem vindo a impedir uma natural evolução com o passar do tempo. Por este motivo, a princesa não terá outro remédio senão abandonar estes privilégios. Mais: ela terá mesmo de deixar a família real, perdendo a sua condição de membro, de acordo com a lei de 1947 que rege a Casa Imperial japonesa, que dita que todas as mulheres da realeza que contraírem matrimónio com um plebeu perdem o seu estatuto, apesar da legislação autorizar que os homens se casem com plebeias.
Assim, a família real nipónica continua a sofrer perdas devido à sua relutância em mudar. Com efeito, esta é a segunda vez que algo do género acontece à família do imperador Akihito, levantando questões sobre a sucessão real: o mesmo ocorreu recentemente com a antiga princesa Sayako, filha de imperadores e a tia da princesa Mako, que casou com Yoshiki Kuroda, um funcionário do Departamento de Urbanismo da Câmara de Tóquio.
Princesa Mako - Foto DivulgaçãoO anúncio do casamento de Mako reduz, agora, para 19 o número de membros da dinastia reinante no Japão, sendo que apenas 4 são homens e têm capacidade para reinar: o actual imperador Akihito (83); o príncipe Naruhito (57), primogénito de Akihito e sucessor ao trono; o príncipe Akishino (51), irmão do sucessor; e o príncipe Hisahito (10), irmão mais novo da princesa Mako.
Uma história normal
A princesa conheceu Kei Komuro na Universidade Gakushuin de Tóquio, onde ambos estudavam. Sim, porque apesar de ser princesa, a jovem sempre procurou ir mais longe na vida e adquirir experiências vitais. É licenciada pela Universidade Cristã Internacional e tem um mestrado em Museologia pela Universidade de Leicester. Para além disso, quando não tinha actos protocolares, trabalhou num museu de Tóquio. O seu futuro marido foi apelidado pela imprensa como Príncipe do Mar, mas este título não tem a ver com o seu sangue azul (que não tem...) mas sim pelo seu grande trabalho ao promover o turismo das praias de Shonan (Kanagawa).
Foto Buzz KenyaA notícia do casamento com Kei Komuro voltou levantar os holofotes para a minguante família real e toda a sociedade nipónica, reacendendo o debate sobre as leis imperiais e a sucessão real, com o imperador Akihito, agora com 83 anos, a anunciar que gostava de abdicar do trono, admitindo que a idade dificultará o cumprimento de suas obrigações. Há dois séculos que nenhum imperador abdica do trono - aliás, a lei em vigor não o permite, apesar do governo estar a pensar em considerar a legislação para permitir que este imperador o faça, apesar de deixar inalterada a lei que só permite que o cargo de imperador seja ocupado por um homem (questão que está na mesa de discussão há anos).
Quem não quer saber destas formalidades é a princesa Mako, que preferiu o amor em detrimento de uma vida cheia de luxos. A sua vida e sua história vão passar assim para um patamar mais comum, onde aquilo que realmente importa está longe de qualquer privilégio.
Foto: Japan News-YomiuriA Lei Sálica
A dinastia monárquica nipónica é das mais antigas do mundo. Quem sabe por isso obedece a uma das leias mais restritivas e antiquadas das monarquias: a Lei Sálica. Segundo a mesma, só os homens varões podem reinar, deixando assim as mulheres fora da sucessão ao trono. Por esse motivo, a princesa Mako não teria nenhuma possibilidade de reinar, pois o seu irmão mais novo, o príncipe Hisahito, tomaria o lugar. Ainda assim, conservaria os seus privilégios reais se casasse com um membro da realeza.
Noutros países, há mulheres reinantes, como no Reino Unido ou Dinamarca, e outras muitas que irão reinar no futuro, como na Holanda, Noruega e na Bélgica.
Foto: ABC NewsNada vence o amor, nem sequer uns privilégios que acabam por se tornar vazios perante as restrições e a intolerância. Sem dúvida que a princesa Mako tomou a decisão certa!
Comentários ()
Dê-nos a sua opinião