Os Emmys não se resumem à passadeira vermelha por onde desfilam os artistas com todo o glamour e elegância. Apesar de nos deleitarmos com os looks incríveis das estrelas, a gala é muito mais do que isso, pois nela são entregues os prémios mais importantes da televisão. Este ano, as principais vencedoras da noite foram as mulheres e as séries nas quais elas participaram, todas com uma importante mensagem feminista.
Foto Getty Images via ET onlineClaro que dizer que a cerimónia prestou uma homenagem à representação no feminino talvez seja exagerado, mas a verdade é que "The Handmaid's Tale" e "Big Little Lies" - séries que se desenvolvem em torno de personagens femininas - levaram para casa oito Emmys cada uma, entre eles os de Elisabeth Moss e Nicole Kidman, com os Emmys de Melhor Actriz em Série Dramática e Melhor Actriz em Série ou Filme Limitado, respectivamente.
A adaptação do romance de Margaret Atwood, de qualquer forma, foi o que levou o maior prémio da cerimónia. E é por esse que começamos.
Handmaid's Tale
Prémios: Melhor Série Dramática, Melhor Actriz de Série Dramática (Elisabeth Moss), Melhor Realizador de Série Dramática (Reed Morano); Melhor Actriz Secundária de Série Dramática (Ann Dowd); Melhor Guião de Série de Drama; Melhor Actriz Convidada de Série Dramática (Alexis Bledel).A série: Tudo acontece num mundo distópico, onde uma sociedade ditatorial que tem como bandeira o puritanismo instaura um regime opressivo que enterra os valores da sociedade que todos conhecemos. Num futuro próximo, e após as taxas de fertilidade terem caído devido à poluição e doenças sexualmente transmissíveis, as poucas mulheres férteis remanescentes passam a ser consideradas "servas" (handmaid) e são brutalmente subjugadas pelo fundamentalismo implantada pela nova República de Gielad - que um dia foi o território dos Estados Unidos, antes do assassinato do seu Presidente - um regime militarizado, hierárquico e fanático, com novas castas sociais, nas quais as mulheres não têm permissão para trabalhar, possuir propriedades, controlar dinheiro ou até mesmo ler. As handmaid são designadas para as classes da elite governante, para fornecerem ao regime os seus descendentes, que perpetuem a espécie, engravidando através de violações ritualizadas. Nesta série as mulheres são submetidas à manipulação, a maus-tratos, mutilações, violações e até assassinatos.
Foto: The Handmaid's TaleMensagem: o Emmy que esta série ganhou não é apenas uma recompensa pelo trabalho soberbo - que fez com que a Hulu se tivesse tornado o primeiro serviço de streaming a vencer o Emmy de Melhor Série Dramática (e outros mais) - mas também o reconhecimento de uma filosofia e incrível consciencialização social. A história não nos mostra apenas mulheres a lutar por escapar a uma sociedade que as tem presas, mas pretende mostrar as consequências horripilantes do patriarcado, tão terrível nesta história e do qual, infelizmente, ainda sobram alguns resquícios na sociedade actual. Nesta série, as mulheres não se submetem apenas às vontades do seu senhor: a questão é ainda mais profunda, pois servem unicamente como elemento reprodutor. Uma série com um projecto de sociedade que não queremos, de todo, para o nosso futuro.
Foto via Facebook OficialBig Little Lies
Prémios: Melhor mini-série de Televisão; Melhor Actriz Principal de Mini-série ou Telefilme (Nicole Kidman); Melhor realizador de mini-série ou telefilme (Jean-Marc Vallee); Melhor Actor secundário de mini-série ou telefilme (Alexander Skarsgård); Melhor Actriz Secundária de Mini-Série ou Telefilme (Laura Dern)
A série: A HBO presenteou-nos com uma das grandes mini-séries do ano, que é - precisamente - protagonizada por mulheres. A história desenvolve-se em torno de três mães - Madeline, Celeste e Jane - cujos filhos andam juntos na escola, num bairro onde acontece um assassinato. Com vidas alegadamente perfeitas, enfrentam situações bem mais complicadas do que ditam as aparências, escondendo segredos terríveis. Madeline, por exemplo, sofre de maus tratos por parte do seu marido, aqui retratados de uma forma como nunca antes tínhamos visto em televisão.
Foto: Big Little LiesMensagem: através da série é possível perceber o cenário de horror produzido pela violência doméstica e a necessidade da solidariedade para com as vítimas. Cada vez mais, a ficção mostra sem escrúpulos uma realidade terrível que tem de ser eliminada, seguindo os exemplos de todos estes envolvidos, apesar de serem provenientes do mundo da televisão. Isto pode ser um passo em frente, tal como demonstrou Nicole Kidman após ter recebido o prémio:
Black Mirror: 'San Junípero'
Premios: Melhor Telefilme e Melhor Guião de Mini-série, Filme ou Especial.A série: Black Mirror é uma crítica à sociedade tecnológica que nos cerca há anos e em particular às suas consequências imprevistas, centrada nos temas obscuros e satíricos da sociedade moderna. Para quem nunca viu a série, cada episódio é autónomo, possuindo um elenco diferente, um cenário diferente e até mesmo uma realidade diferente, propondo-nos histórias inquietantes mas perfeitamente plausíveis, que se passam geralmente num presente alternativo ou num futuro próximo e têm, sempre, como epicentro hipotéticos avanços tecnológicos. O episódio vencedor foi "San Junípero", que relata uma história situada nos anos 80, numa cidade com o mesmo nome. Trata-se de uma história de amor entre duas mulheres, que desafia as leis do tempo e do espaço, e que cativou e também surpreendeu o publico com um final feliz, o que não acontece nas outras histórias distópicas desta mesma produção.
Foto: Black Mirror: San JuníperoMensagem: neste capítulo são defendidos os direitos da comunidade LGBT+, graças à naturalidade com que é abordada a relação entre duas mulheres. Para além disso, esta relação é interracial, pelo que o capítulo rompe com uma série de preconceitos de uma tacada só, falando também do amor e da liberdade de escolha em todos os sentidos.
https://twitter.com/blackmirrorVeep
Premios: Melhor Série de Comédia; Melhor Actriz de Série de Comédia (Julia Louis-Dreyfus).A série: nesta série acompanhamos a vida da ex-senadora Selina Meyer, que chega à vice-presidência dos Estados Unidos e se vê na eminência de assumir efectivamente a presidência devido ao estado de saúde crítico do actual Presidente, sem ter a mais pequena ideia de como funciona o cargo. Temporada atrás de temporada, esta mulher, apoiada pela melhor assessoria possível, aprende a enfrentar essa vida, até alcançar uma posição privilegiada. Tudo num clima de humor, que é sempre mais leve (apesar de, aqui, ser densamente negro).
Foto: VeepMensagem: num mundo onde as mulheres sempre estiveram em segundo plano, a lógica dita que o futuro apresente um panorama de igualdade, no qual os homens e as mulheres tenham as mesmas oportunidades, em todos os âmbitos da vida. Na senadora Selina Meyer vemos o exemplo perfeito de quem consegue vencer na política norte-americana, apesar dos precedentes da sua história. Além disso, Julia Louis-Dreyfus foi condecorada com o seu oitavo Emmy, o sexto como Selina Meyer, o que a torna a primeira pessoa que mais vezes recebeu este prémio com o mesmo personagem.
https://www.facebook.com/veep/photos/a.276955355715290.66119.270240406386785/1514856638591816/?type=3&theaterAinda há um longo caminho a percorrer, mas a indústria da televisão está, efectivamente, a apostar nas mulheres para séries do pequeno ecrã e da Internet, reivindicativas e protagonizadas por personagens femininos.O passo seguinte será igualarem os ordenados... Ficamos à espera do que ainda está por vir!
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