Uma das comédias românticas mais famosas dos últimos anos vai ganhar uma nova vida já no próximo dia 24 de Março. Falamos de uma curta-metragem com cerca de 10 minutos, que será transmitida pela BBC e que fará as vezes da sequela do maravilhoso filme “O Amor Acontece” (Love Actually), que se estreou nas salas de cinema em 2003. Esta curta tem um carácter solidário e a sua transmissão está inserida no evento anual de angariação de fundos Red Nose Day, com o objectivo de apoiar a fundação Comic Relief, que ajuda a combater a fome e outras calamidades que assolam África.
Foto: IndependentA curta, que irá mostrar como está a vida dos personagens 14 anos depois, será novamente realizada por Richard Curtis (líder da Comic Relief), contando com quase todo o elenco original, incluindo a portuguesa Lúcia Moniz, que no filme interpretou Aurélia.
A excepção é a personagem interpretada por Emma Thompson, que estará ausente por decisão conjunta do realizador e da actriz, que acharam que a morte de Alan Rickman no início de 2016, com quem a actriz fez par romântico no título original, ainda é muito recente.
Com a aproximação deste extraordinário evento, a Zankyou decidiu rever as grandes lições de amor que o filme O Amor Acontece nos deu em cada uma das suas histórias. Lições que, felizmente, não têm prazo de validade.
Foto: Love ActuallyJuliet, Mark & Peter
Um “trio amoroso” muito light. Peter (Chiwetel Ejiofor) não entende porque é que o seu melhor amigo Mark (Andrew Lincoln) é tão desagradável com a sua recente esposa, Juliet (Keira Knightley).
Acontece que Mark, por detrás de uma máscara de respeito, orgulho e timidez (o que não deixa de ser curioso, tendo em conta a colecção de fotografia erótica da sua galeria de arte) esconde um amor secreto por Juliet, que acaba por “confessar” inconscientemente, ao mostrar à amiga o vídeo que fez do seu casamento, onde aparecem quase exclusivamente grandes planos dela.
Para encerrar de vez o assunto (“chega, já chega”, murmura Mark) o rapaz declara-se formalmente à amiga com uma sucessão de cartazes repletos de humor e bonitas palavras de amor. “Para mim, és perfeita”, finaliza.
Ela não consegue resistir-lhe e dá-lhe um tímido e delicado beijo na boca, em sinal de reconhecimento. E é este o final da história, sendo que o marido nunca fica a saber do sucedido.
No amor, por vezes, temos de nos resignar e adoptar uma “boa cara”, sobretudo para o bem dos outros e apesar de existirem sentimentos incontroláveis.
Daniel & Sam
A história mais encantadora do filme, apesar de ser um amor de pai e filho. Depois da morte da mulher de Daniel (Liam Neeson) e mãe de Sam, aquele - que não é pai biológico do pequeno - assume o papel líder da família. O seu grande primeiro desafio, apesar de lhe parecer surrealista, será enfrentar a paixão do jovem Sam pela rapariga “mais fixe da escola”, chamada Joanna.
Daniel: Mas não és muito jovem para estares apaixonado?
Sam: Não
Daniel: Ah, pois, ok…Ohh, sinto-me um pouco mais aliviado.
Sam: Porquê?
Daniel: Porque pensava que era algo pior.
Sam: Pior que a angústia de estar apaixonado?
Daniel: Oh, sim, tens razão, angústia total.
Não, a história de amor não fala de Sam e Joanna. Porquê? O amor manifesta-se de múltiplas formas e, neste caso, centra-se em Daniel e Sam, que desenvolvem uma relação maravilhosa que os torna numa sólida família.
Mas, de qualquer forma…Sam fica com a miúda!
Jamie & Aurélia
Quando o pobre Jaime (Colin Firth) descobre que o irmão anda a dormir com a sua mulher, a sua vida, cravejada pelos seus inúmeros fracassos amorosos, muda de rumo. Deprimido, decide refugiar-se num local em França para terminar o seu último livro antes do Natal, um retiro que inclui tudo o que constitui um verdadeiro pacote bucólico: uma fantástica casa de madeira, um lago e musas inspiradoras.
Ali, apaixona-se por uma mulher portuguesa que lhe limpa a casa, chamada Aurélia (Lúcia Moniz), que se deixa conquistar pela falta de jeito de um “Colin Firth em versão encantadora”.
oAo regressar à realidade e na Véspera de Natal (como não podia deixar de ser…), Jaime descobre que temos de arriscar e lutar por aquilo que queremos. Neste caso, o personagem decide aprender português e apanhar um voo para França para encontrar o bairro onde vive Aurélia. E é ali que a pitoresca família portuguesa - cuja caracterização baseada em estereótipos errados foi muito criticada na altura - o conduz até ao “prémio” final.
A já célebre “Bonita Aurélia”, expressão com a qual Jaime inicia o seu pedido de casamento, ficará para sempre nas nossas memórias. E a lição que, por vezes, temos que dar tudo no amor!
Billy Mack & Joe
Uma das grandes manifestações de amor é a amizade. Billy Mack (Billy Nighy), um ex-toxicodependente que chegou ao “Olimpo do Rock” na sua tenra juventude, volta ao centro das atenções com uma versão de Love is All Around em tom natalício, que o leva de novo à ribalta e o converte na grande estrela do Natal.
No entanto, quando tem a oportunidade de celebrá-lo com sexo e álcool, Billy decide abandonar o hedonismo e “lançar-se nos braços” do seu manager, Joe, para celebrar o Natal e a amizade. Sim, só para isso (e ver filmes para adultos e embebedar-se, claro). A amizade é um tesouro!
Bill: Dei-me conta de que o Natal é para estar com as pessoas que amamos.
Joe: Certo.
Bill: E dei-me conta que, na sequência de um acaso terrível e um fatídico engano, aqui estou eu, com cerca de cinquenta anos… sem me ter apercebido que passei a maioria da minha vida adulta ao lado de um empregado gordinho. E por muito que me custe dizer, acho que no meu caso as pessoas que amo resumem-se, na realidade… a ti!
Joe: Bom, isto é uma surpresa.
Bill: Yeahh
Joe: Dez minutos na casa do Elton John e já és gay?
Bill: Não, olha, estou a falar a sério. Eu saí da casa do Elton onde estavam imensas miúdas meia despidas com as bocas abertas para estar aqui contigo, no Natal.
Joe: Bem, Bill…
Bill: É um terrível, terrível erro, gordinho…mas acabaste por ser o amor da minha vida. E para ser honesto, apesar de todas as minhas queixas, nós tivemos uma maravilhosa vida juntos.
Karen & Harry
Esta é uma das histórias mais amargas descritas no filme, mas quem sabe a mais poderosa e com valores mais importantes. Porquê? Porque a infidelidade de Harry (Alan Rickman) em relação a Karen (Emma Thompson), apesar de ser uma fatídica circunstância do amor, consegue ser ultrapassada. Como? Com reflexão, decepção, muitas lágrimas e as músicas de Joni Mitchell.
Não é fácil superar uma infidelidade absurda baseada na mera atracção, mas tudo passa e, se amamos de verdade, supera-se. A Karen custou-lhe horrores mas, mesmo depois de se ter sentido ridícula, acabou por chegar à conclusão que o seu casamento merecia uma segunda oportunidade.
David & Natalie
A relação entre o Primeiro-ministro (Hugh Grant) e Natalie (Martine McCutcheon), a sua secretária, demonstra várias coisas. Em primeiro lugar, que o flirt machista inicial do Presidente dos Estados Unidos em relação a Natalie é repugnante. Em segundo lugar, que o status, a posição social e os estereótipos não são impedimentos para que uma relação resulte. Com efeito, David apaixona-se por Natalie, apesar dela não se enquadrar nos cânones de beleza vilmente impostos pela sociedade e apesar dos seus diferentes status sociais.
O amor pode tudo e não inclui preconceitos. E esta filosofia deve ser aplicada a todo e qualquer tipo de relação!
Colin & a vida
Colin (Kris Marshall) é o personagem mais “rufia” deste filme. Só se “quer dar bem”, tendo uma visão muito pessoal do amor.
Com argumentos peculiares, o rapaz demonstra que os sonhos podem tornar-se realidade. O seu desejo, apesar de eminentemente sexual, passa por disfrutar da vida com mulheres e aproveitar a sua liberdade. No entanto, como se se sente frustrado com as mulheres inglesas, com quem não tem sorte nenhuma, apanha um voo para os Estados Unidos para dar início a um périplo sexual daqueles que fazem história. Mas há experiências loucas que podem acabar em algo mais…
Colin: Acabo de perceber porque é que não encontro o amor verdadeiro.
Amigo: Porquê?
Colin: As raparigas inglesas são muito snobes. E eu sou mais atraente para as raparigas mais descontraídas e dispostas a divertirem-se, como as norte-americanas. Por isso eu devo ir para os EUA. Ali vou conseguir rapidamente uma namorada!
Sarah & Karl
Sarah (Laura Linney) está há muito tempo apaixonada por Karl (Rodrigo Santoro), o rapaz mais giro de todo o escritório. Nunca se atreveu a dar o primeiro passo, mas na festa de Natal da empresa, com toda a animação, apercebe-se que o seu amor é correspondido.
Quando estão já em casa dela, o telefone toca… e volta a tocar. O que se passa? Parece que Sarah tem um irmão psicologicamente instável, que requer a sua permanente atenção.
Sarah: Era o meu irmão. Não anda muito bem, telefona-me muito.
Karl: Lamento.
Sarah: Não, mas está bem, está bem. Bem, na realidade, não está bem, apesar de ser o que é. Como não temos pais é meu dever cuidar dele. Bom, não é o meu dever, faço-o com gosto.
Karl: Não te preocupes. A vida está cheia de interrupções e complicações, por isso…
Neste caso, a realidade impõe-se, uma realidade em que Sarah se entrega ao amor fraternal.
Há histórias que terminam mal, mas que se regem pelo amor, apesar de este ter ficado “em família”. Esta história ensina-nos que a vida é dura e que, por vezes, temos de nos sacrificar pelos nossos entes queridos, mesmo que tal implique sentirmo-nos incompletos.
John & Judy
O amor pode surgir em qualquer lugar, inclusivamente no set de um filme pornográfico. Contudo, estes nossos protagonistas não são actores porno, mas sim duplos. Por isso, devem apenas recriar as sequências de sexo.
Entre provas e mais provas, uma centelha de um amor encantador surge entre eles. O mais curioso é que, mesmo tendo em conta o seu trabalho (onde têm de estar nus e simular relações sexuais), a timidez e a inocência de ambos é a chave da história. Na verdade, parecem duas crianças.
O Amor Acontece é um filme magnífico. Estará a curta-metragem à altura? Muito brevemente iremos descobri-lo. Entretanto, deleitemo-nos com os benefícios e as realidades do amor graças a este maravilhoso filme que jamais envelhecerá!
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